14 de abril de 2009

Tombo-enceto.


  Pusilânime, com a lâmina na mão direita, esboço o novo trajeto para meu instinto abalado. Volto no tempo e lembro de todo sangue que derramei. (Teria mais líquido espesso em mim?) Faço memória do meu mênstruo e concluo que o fluxo que ronda aquela área, ronda todo meu ser. Divago. Derramo uma lâgrima acre. Penso no princípio e meio da existência. Lâmina pro alto.Sim, eu me rendo!
  Nunca aderi a estabilidade. A inconstância me mantém viva, porém ela transtorna meus dias, meus relacionamentos e minhas convicções. Na linha-limite, não á circunspecção, só oscilações, traumas e pólos contrários. Ventura imediata, contratempo sobreposto.( Soluções? -Muito prazer, meu nome é D., estou a procura-las.)
  Dotada de coragem, me curvo ao chão, pego o objeto estrídulo e o coloco agora  na mão esquerda. Viajo no futuro e penso no potencial escondido no meu tímido sofrer. Recolho a única lágrima acre. Reflito sobre o rebate da humanidade, recordo Saramago nas Intermitências da morte, ensaio um sonho bom. Lâmina pro chão.Eu me domo!
   Livres interpretações, desastres insensatos. (Determinar a extensão das palavras é a precaução imediata. ) Antes o não dito do que o dito "pelos cotovelos." Entendam, eu só quero me livrar do mau que sou... Sem penar nem pesar.
  Careço da sua compreensão, mas não de sua piedade. Sou mocinha-flor ameaçando desabrochar. Já sei que meu cheiro é bom, e embora minha cor seja escarlate, não sou tão obcena assim. Vem! Vou...
  Estou a procurar meus rótulos, vou rasga-los, não quero ser vendida para os mercadinhos de flores. Não posso morrer nas mãos de quem não me quer bem. Já tenho meus próprios espinhos e confesso que eles não são defesas e sim suplícios.
  E todas essas vozes? Voces não tinham ido embora meninos? Vão brincar lá fora, no sol...A noite é sombria e aqui dentro não tem mais nada não! Amarrem suas mãos, ou então eu amarro meus cabelos, raspo a minha cabeça, sei lá! Reconheço suas fisionomias mas suas presenças são incômodas. Pq gostam tanto de mim? Eu nem gosto de vcs... Olha, não adianta falar que são meus frutos, disso eu bem sei. Mas já que são frutos, decido come-los vivos e acabar de vez com esse sabor ácido. Estou engolindo!Que delícia!Nem é tão ácido assim.
  Não sou alquimista, não uso nenhum tipo de droga, não sou esquizofrênica, não tenho nenhum chip implantado no corpo, nunca fui à Urânio e não sei nada sobre o ácido em Plutão. Eu apenas, sonho...Viajo...As vezes longe...Vezes dentro de mim...Me perco, me acho, me desconheço. Sou errante!Caminhante.
  O sol já está a raiar. Pela última vez, me curvo ao chão claro do banheiro. Agora lâmina na mão direita(não, não é uma dança).O trajeto? A jugular! Soluços emanados no peitoral. As lágrimas não são mais acres, agora são doces. Meu mênstruo, congelou. O que ronda meu ser nesse instante é o desconhecido. Sinto todos os gostos. Revivo todas lembranças. O futuro se torna ausente e o passado futuro. Ops...Me esqueci do presente. Me esqueci do MAIOR BRINDE do presente! O Ar. Que é Lei. Conjecturo o atual. Armo minha respiração. Aceito adornos! Tudo agora só depende de mim. Minha vida é minha felicidade. Eu me recomponho. Mantenho a compostura. Sorrio.
  A lâmina? Alarde!
  Muito prazer, meu nome é D.